O diagnóstico do veículo começa na conversa do reparador com o cliente. Nesta conversa, detalhes importantes como:
• Quando começou a ocorrer este defeito?
• Foi após uma manutenção em alguma oficina? Se sim, qual serviço foi realizado?
• Qual e quando a última revisão feita no veículo?
• O veículo possui algum sistema de bloqueio de combustível ou rastreador?
• Abastece geralmente com qual tipo de combustível?
• Qual o último combustível usado no abastecimento?
• O defeito se manifesta em que momento do dia?
• O defeito acontece mais com o veículo quente ou frio?
• Qual a média de consumo de Km/Litro?
• Já tentou resolver este defeito em outra oficina e não teve êxito?
A entrevista consultiva revela detalhes importantes para podermos montar o nosso mapa mental e resolver o problema. Entretanto, no caso do Fiesta isto não foi possível. O veículo pertencia a uma grande empresa que não gerenciava a manutenção de sua frota e o motorista não tinha informações a nos passar. A falta destas informações dificulta e pode deixar o serviço um pouco mais demorado, mas não o torna impossível de diagnosticar. Municiados de um scanner, osciloscópio e diagrama elétrico, hora de ir ao combate!
O ponto de partida foi a falha mostrada no scanner: P0343 – Circuito do sensor de posição do Came – entrada alta.
Quando o equipamento de diagnóstico se comunica com a UCE (unidade de comando eletrônico) do veículo e pede informações referentes à falha, a UCE fornece apenas o código de falha. A descrição do código de falha (neste caso: Circuito do sensor de posição do Came – entrada alta) é inserida pelo fabricante do equipamento de diagnóstico. Isto posto, fica outra dica: consulte o código de falha em uma plataforma online. Talvez a descrição na tela do seu equipamento não seja muito clara ou pode conter erros. No caso do Fiesta, checamos o DTC (DIAGNOSTIC TROUBLE CODES) na plataforma Diag app da Ciclo Engenharia.
Como as descrições do scanner e aplicativo apontaram para o sensor de Fase (sensor de cames), o reparador resolveu capturar o sinal deste sensor com o seu osciloscópio.
Vemos nesta imagem o sinal do sensor de rotação ou CKP (do inglês crankshaft position sensor) no canal amarelo e em verde, o sinal do sensor de fase. Por que o reparador capturou o sinal de fase juntamente com o de rotação? Justamente para ver o sincronismo do motor. Alguns sistemas de injeção eletrônica apontam erro no sensor de fase e na realidade o erro é no sincronismo no motor. Entenda a lógica da UCE: a central tem em seus mapas internos a posição ideal do sensor de fase em relação ao sensor CKP. No veículo que está com o sincronismo errado, a posição do sinal enviado pelo sensor “não bate” com o sinal gravado internamente na UCE. Com esta implausibilidade, a UCE faz acender a luz espia de injeção eletrônica e grava a falha na memória.
Voltando para a figura 3, vamos fazer uma análise do sinal:
• O sinal CKP mostra que temos uma roda fônica de 60-2 dentes. Para chegar a esta conclusão, o reparador deve contar os dentes (parte alta do sinal) que somam 58 com a falha no sinal de dois dentes. Na marcha lenta, os dentes da roda fônica apresentam amplitude de quase 6 volts.
• No sinal do sensor de fase, vemos apenas a marcação de um dente, destacado no círculo vermelho. Repare que temos uma tensão constante de quase 5 Volts (cinco volts) no canal verde e após 11 dentes do sinal CKP, a tensão cai a 0 volts (zero volts) mostrando o dente no eixo comando de válvulas.
No canal verde temos um sinal de fase e no scanner acusa falha neste sensor. O que estaria acontecendo? Senhores, vejam a importância do osciloscópio nos nossos diagnósticos. Outra ferramenta, no teste deste sensor, certamente nos conduziria ao erro. Um multímetro por exemplo, medindo a frequência em Hertz do sinal, certamente marcaria algum valor. Medir a tensão média neste fio, lógico que marcaria algum valor em volts ou então o uso de uma caneta de polaridade… certamente o LED verde piscaria. Então você leitor poderia pensar: “Olha, está pulsando, então não tem defeito. Deve ser defeito no módulo!” Então, viram como é fácil um diagnóstico errado sem as ferramentas certas?
O diagnóstico avançado com osciloscópio parte do princípio de que a imagem capturada deve ser comparada com uma imagem de um componente em boas condições de funcionamento. Funciona com a onda de ignição, em que comparamos o nosso sinal da “cadeirinha” com um sinal PADRÃO daquele veículo. De modo igual acontece com os sinais de fase e rotação: capturamos um sincronismo destes sensores e guardamos em nosso banco de dados. Se não temos a imagem de referência em nossos arquivos, então consultamos nossos colegas ou pesquisamos no Fórum. São muitos veículos, centenas de sistemas e milhares de sinais a serem capturados, é impossível um profissional conseguir todos estes sinais. Daí a importância do compartilhamento de imagens.
No Fórum oficina Brasil existe uma imagem de sincronismo de referência postada pelo reparador Joelson Santos, de um Ford Ka 2009 com o mesmo motor ROCAM do veículo testado (figura 4 ou leia com seu Smartphone o QRCode A). Notem que este sensor de fase da foto de referência mostra 3 dentes no comando! Opa, algo de errado por aí…
O reparador desmontou a tampa de válvulas e encontrou o erro: comando de válvulas com aplicação errada. Este comando com apenas um ressalto, marcado em vermelho, é usado em motores ROCAM mais antigos que usam um sensor de fase indutivo, que tem apenas 2 fios no conector.
No Fiesta testado na Montese Autocenter, o sensor é de efeito Hall e tem 3 fios como mostra a figura 6. Para este sensor de fase de 3 fios, o comando correto é o mostrado na figura 7, em que vemos 3 ressaltos de tamanhos diferentes.
Ainda no Fórum Oficina Brasil, na seção Casos de Estudo, outro reparador deu uma contribuição importantíssima para o fechamento do diagnóstico: o reparador Osair Xavier, da Auto mecânica Xavier, mostra a diferença do sinal do sensor de fase indutivo do sinal de fase com sensor de efeito Hall. Confira no QRCode B com seu smartphone.
Após a instalação do comando de válvulas correto, o reparador com seu scanner conseguiu apagar o código de falha tranquilamente. E aí, o amigo reparador ainda tem dúvidas que o osciloscópio é essencial no diagnóstico eletromecânico? Venha para o mundo do diagnóstico avançado. Os carros mudaram e as ferramentas também. Falta apenas você! Acesse nosso fórum e fique por dentro do que há de mais moderno em diagnóstico automotivo.
Fonte: https://www.oficinabrasil.com.br/noticia/consultor-ob/estamos-na-era-em-que-o-diagnostico-toma-mais-tempo-equipamentos-sofisticados-e-sabedoria